Pouca gente sabe qual a função de um editor. Na época em que apenas homens eram editores, o escritor Stephen King talvez tenha resumido bem, não sobre a função, mas sobre seu papel: “O editor sempre tem razão", para em seguida dizer: "Escrever é humano, editar é divino". Como editoras deste livro, acrescentaríamos que a editora é aquela que se contenta em encontrar textos inéditos, bem escritos e transformá-los em livro.
Antes de ter em mãos estas cartas, encontramos um texto colado em alguns postes no centro da cidade. Ele dizia sobre cartas apócrifas e anunciava uma curiosidade quase doentia sobre sua autora: quem escreveu estas cartas? Onde eles estão? Eles se amaram além da linguagem? Colar o texto publicamente em postes, prática muito mais antiga do que imagina-se, é quase como uma voz de desespero. O que leva uma pessoa que encontra uma correspondência perdida a querer saber tanto sobre quem a escreveu?
Anotamos os contatos, marcamos um encontro para saber mais sobre o achado e sobre os textos. Sim, editoras são necessariamente curiosas. Nós lemos as cartas e as compramos (sim, editoras compram textos), ainda que não tenha sido a Fernanda (a autora dos postes) quem tenha escrito as cartas. Mas a posse era dela, que nos prometeu doar o dinheiro aos correspondentes se um dia eles deixarem o anonimato. O que nunca aconteceu até hoje, permanecendo assim o mistério das janelas, do amor e do destino (ou do meio, como escreve Carolina) deste romance epistolar de dois amantes que se conheceram no universo da linguagem durante uma pandemia.
Confessamos que ficamos com vontade de reescrever um final feliz, mas depois pensamos que seria ser divino demais fazer isso, e nos contentamos com a humanidade dos correspondentes.
Esperamos que os leitores aceitem a correspondência como ela é, porque é também a vida como ela é. Seja de linguagem, seja a da pele enroscando na atmosfera, a escrita por si é o que aproxima essa pequena aventura de dois confinados da literatura.
Se Pedro ou Carolina lerem este livro (ou relerem), não digam quem são, nem o que aconteceu depois do ponto final. Deixem as leitoras e os leitores usarem a imaginação, coisa cada vez mais rara nestes dias pós-pandêmicos.
Boa leitura.
- As editoras
- Autores: AUTOR: BRÜGGEMANN, FÁBIO | AUTOR: VOGT, MARIANA
- Editora: ESTÚDIO SEMPRELO
- ISBN: 9786599120398
- Páginas: 110