Hackeando o poder: Táticas de guerrilha para artistas do Sul global é um manual com táticas de guerrilha destinado a artistas mulheres (cis, trans, negras, indígenas, periféricas) que desejam ingressar no sistema da arte. Do prático e técnico ao conceitual e subjetivo, seus textos discutem questões essenciais do nosso tempo – como o combate ao racismo, às desigualdades, à violência de gênero e à LGBTQIAP+fobia – sob uma perspectiva decolonial, e apresentam ideias e meios para que jovens artistas das periferias possam se inserir no mercado e em espaços institucionais de arte.
Gerado a partir da experiência de mais de dez anos da Rede NAMI, organização que une a arte à transformação social, e elaborado coletivamente, em palavras e imagens de obras, por artistas e profissionais da arte mulheres, como Aline Motta, Amanda Carneiro, Keyna Eleison, Panmela Castro, Priscila Roxo e Rosana Paulino, o livro se propõe a introduzir os caminhos do mundo da arte para uma nova geração consciente de sua posição no mundo. Como jovens artistas mulheres podem fazer contatos, expor seus trabalhos e sobreviver de arte?
Através do compartilhamento de experiências, conhecimentos, histórias e imagens, o volume tem como objetivo estimular e propagar a colaboração mútua, para que, indo além das conquistas individuais, estruturas sejam formadas para todas e para as gerações seguintes. Afinal, um hackeamento efetivo e afetivo das instituições de arte e seus agentes só pode ser estabelecido de maneira coletiva.
Como escreve Rosana Paulino, “não se trata, portanto, de um manual com dicas de como se ganhar dinheiro com arte, mas, sim, de textos que mostram a importância da profissionalização nesse meio tão refratário às populações periféricas e, notadamente, às mulheres, principalmente às negras.”
Trecho:
“Pessoas que não encaram preocupações com dinheiro podem dissertar sobre a arte e sobre ser artista de maneira ‘romântica’, como se o fazer artístico devesse ser movido unicamente por amor, para que o reconhecimento chegue naturalmente. Quando você não precisa se preocupar em como vai pagar as contas e os boletos ou como vai alimentar a sua família, esse pensamento pode fazer sentido e é até bonito. No entanto, ele não se aplica à vida de artistas periféricas, não brancas ou sem privilégios de classe. No decorrer da história, essas artistas são interrompidas em suas trajetórias por precisarem lidar com altas jornadas e um deslocamento longo e cansativo para o trabalho, além da ausência de financiamento ou estrutura para se dedicar aos estudos e da dificuldade de acessar as pessoas detentoras do poder das artes. Os problemas financeiros afetam a criação e o desenvolvimento dessas artistas. Quando não há estabilidade financeira para prover o mínimo de qualidade de vida, o trabalho de arte pode ficar comprometido ou mesmo posto em segundo plano. Afinal, se você estiver preocupada, cansada e sem tempo para pensar e criar, é provável que não consiga produzir. Assim, muitas artistas acabam desistindo de suas carreiras por estarem sobrecarregadas com as responsabilidades do dia a dia e sem perspectiva em suas carreiras artísticas.”
Sobre a organização
A Rede NAMI é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo o uso da arte como veículo de transformação social. Seus projetos promovem os direitos das mulheres, negros, povos originários, pessoas LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência. A organização surgiu em 2010 pelo desejo de sua fundadora, a artista Panmela Castro, em contribuir para o fim da violência contra a mulher e fomentar o protagonismo das mulheres nas artes. A NAMI realiza um trabalho de base, buscando estimular as potencialidades de liderança de grupos marginalizados pela sociedade em diversos âmbitos, alinhando-se diretamente a três dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para construir um mundo menos desigual e mais sustentável.
- Autores: AUTOR: REDE NAMI | Projeto gráfico: MARCHETTI, GUSTAVO
- Editora: COBOGÓ
- ISBN: 9786556910925
- Páginas: 240