Ildefonso Juvenal e Antonieta de Barros são personalidades que fazem parte de minhas narrativas familiares. Meu pai, Bernardino, militar, me trouxe o “Major Juvenal” e minha mãe, Zulma, professora, me trouxe “a professora Antonieta”. Dois gigantes, Ildefonso e Antonieta, que subverteram a lógica das relações raciais impostas para a primeira geração de não-escravizados em Santa Catarina.
Negro e negra, falaram de si e de sua coletividade. Os dois, juntos em 1933, falaram sobre o 13 de maio, dia da abolição da escravatura. Portanto, estava nesse ato dado o lugar de expressão política e identidade desses dois intelectuais. Eram negros!
Ildefonso é articulador de organização negra, Centro Cívico e Recreativo José Boiteux, seguramente a organização ancestral do Movimento Negro de Florianópolis, da qual manteve diálogo com outras entidades negras da região sul do país.
A negritude de Ildefonso Juvenal está explicitada no conjunto de teóricos negro que apresentou para sustentar suas teses e argumentos. Dentre eles, aqueles apresentados por ocasião dos 33 anos da abolição:
“Não vos preciso dizer o que foi a escravidão. Vós bem o sabeis que a escravidão resumia-se na negação dos sagrados direitos humanos, nas perversidades mais inconcebíveis, na prática de todas as crueldades vis e miseráveis que podem fazer um ente humano sofrer todos os horrores nefandos, com o horror da fome, o horror do frio e os vexames da vergonha…”
Com essas palavras, Ildefonso Juvenal, o negro assuntado de sua etnia, seus temas e seus pressupostos lapidaram, para o cenário intelectual, os contúdos de africanidade.
- Jeruse Romão, Professora, pesquisadora, autora e militante do movimento social negro.
- Autores: ORGANIZAÇÃO: GARCIA, FÁBIO | AUTOR: SILVA, ILDEFONSO JUVENAL DA
- Editora: EDITORA CRUZ E SOUSA
- ISBN: 9786585042086
- Páginas: 456