O texto todo, destinado aos jovens universitários, nos quais depositava uma esperança infìnita de genialidade, é um alerta, a todos, para os perigos do rebaixamento moral, contido na classificação dos tempos modernos.
Providos dos gens de nossos antepassados, recebemos, durante a infância e a adolescência, uma miríade de normas sociais; deveriam elas, por princípio, aprimorar-nos para uma vida superior. Elas o fazem; mas, por caminhos escusos. Pois representam, de acordo com o simbolismo várias vezes empregado por Nietzsche, toda a carga depositada sobre a corcova do pobre camelo, que a carrega a cada dia em maior número, com maior pesar, indiferente aos olhos do seu dono.
Acontece-nos carregar a carga até o dia em que, por qualquer destas indefectíveis forças misteriosas, internas ou externas, nos vemos obrigados a tomar o caminho que não é de ninguém. Deixamos o hábito, a rotina, e seguimos esse caminho algo extasiados, envoltos no odor agradável de uma sonhada liberdade de ser. Ocorre que ainda somos camelos e temos sobre as costas um peso que nos fatiga e não nos permite o mergulho pleno nesta liberdade. Então, conforme Nietzsche, topamos pela frente com um tremendo dragão verde, soltando bolas de fogo pelas nervosas narinas, que nos sacode de nós mesmos num grande e largo susto; este é o momento crítico, pois não há volta: temos que enfrentar, na nossa condição de camelo, o feroz dragão que nos impede, sem qualquer escrúpulo, de prosseguirmos no nosso caminho.
- Autores: AUTOR: INGENIEROS, JOSÉ
- Editora: ICONE
- ISBN: 9788527408622
- Páginas: 248