É maravilhoso o que aponta:
de uma folha rasteira
pende uma gota d’água,
um fóssil cintilante
da chuva noturna.
O que sabe e aprende
não pode me ensinar
pois já me esqueci
e o que tenta me devolver
não pode ser meu
pois foi você quem colheu:
a primeira amora arrancada
com as próprias mãos.
"Daniel Francoy nos faz ver com vista dupla, invertida, na qual é preciso um certo ajuste de cegueira para enxergar as coisas que acontecem perto do coração — aquelas vivas, sujas e quentes. Num dos poemas: pensar na bondade das mãos quando for ferir e na maldade delas quando for perdoar. Para ser um leão é preciso ser antes uma serpente. Francoy nos faz perceber que descobrir a orfandade das coisas é descobrir ao mesmo tempo a sua irmandade, uma amplidão que decorre da persistência da experiência da ausência. Tudo será, mais cedo ou mais tarde, ruína. A estação das coisas que caem e das coisas que renascem. Até lá, até que se perca tudo (nada), talvez um conselho possível diante daquilo que vai desaparecer seja este, o de aprender a flutuar com coragem e imprudência — e que, talvez, ainda nem se saiba o significado da palavra medo."
- Ana Estaregui
- Autores: AUTOR: FRANCOY, DANIEL | ILUSTRAÇÃO: FRANCOY, ANA LETÍCIA
- Editora: EDICOES JABUTICABA
- ISBN: 9786500419450
- Páginas: 80