O fragmento literário, resvalado na filosofia, é o exercício da dúvida; e o exercício da dúvida é o foco do ceticismo; e a natureza do ceticismo é a suspensão de todos os juízos, o desprendimento das certeza, a abertura ante o silêncio e a tranquilidade do vazio. Ao mesmo tempo, a mesma escrita fragmentária é o registro de uma certa evidência, experiência de assalto, clarão da realidade. Daí o paradoxo que produz a fusão: o fragmento literário, relato cru, intempestivo, é a certeza das incertezas, a evidência do vazio, o planar no abismo.
Em opúsculo perplexo, a escrita de dúvidas e clarões ocorre in loco, colada no tempo da experiência, como quem, instantes após a vivência, saca o caderno do bolso e registra — e tal registro é o texto final, a própria literatura: frases soltas, diretas, uma espécie de esboço lapidado, ou escrita íntima e diarística de quem, aparentemente, quer guardar aquilo em segredo.
opúsculo perplexo é uma miscelânea fragmentária (ou zuihitsus), inspirada da filosofia zen budista do Extremo Oriente, com toque da filosofia existencialista ocidental, que circula pelos mesmos temas estranhos e escuros, estridentes e sutis: o mistério da morte, a dádiva da risada, o valor a simplicidade, o contato com o vazio. A ilustrações de capa e contracapa são pinturas de Sengai Gibon (1750–1837), monge zen budista japonês conhecido pelos seus ensinamentos irreverentes e pinturas alegres.
- Autores: AUTOR: MORENO, FELIPE
- Editora: CASATRÊS
- ISBN: 9000002530490
- Páginas: 37