CRIANÇAS QUE VIVEM EM CASAS DE ACOLHIMENTO

O objetivo geral desta obra foi investigar, a partir do olhar dos profissionais que trabalham em casas de acolhimento, como ocorrem os processos de constituição da infância em crianças que vivem nessas instituições. A fundamentação se assenta nos estudiosos da Sociologia da Infância. A investigação, de cunho qualitativo, desenvolveu-se em uma Casa de Acolhimento. Participaram do estudo os profissionais pertencentes ao quadro funcional da instituição. Os resultados da pesquisa revelam que a infância e a adolescência no contexto de abrigamento constituem-se como fenômenos demarcados por um espaço e por um tempo limitadores, caracterizados pela rotina rígida, controlada. Um ambiente assinalado pelo cerceamento não somente relacionado às possibilidades de acesso à cultura e à socialização, mas também de sonhos e expectativas, desvelando a constituição de uma infância fortemente administrada e disciplinada sob a rubrica do ajustamento. Chegamos à conclusão de que a institucionalização descortina uma ambiguidade, pois, ao mesmo tempo em que essas crianças são perceptíveis pela sua vulnerabilidade, elas são invisíveis e, portanto, colocadas à margem por serem desconsideradas em seus direitos. Adentrar no universo dessa infância nos permitiu constatar que: se, por um lado, elas são vítimas de diversas formas de violência em seus lares de origem, por outro, ali, na Casa de Abrigo, elas vivem e sobrevivem, resistindo ao descaso social, ensinando-nos que a vida pode ser reinventada.