Família, sexualidade e religião, mais do que entidades possuidoras de uma natureza particular, constituem para a abordagem sócio antropológica dimensões da vida coletiva que distinguem sistemas sociais. São redes de relações que envolvem múltiplos aspectos tais como a reprodução biológica e social, encontros sexuais e sociabilidade, crenças e rituais para mencionar apenas algumas de suas instâncias. Os vínculos entre tais domínios são complexos, superpostos e diferenciados no que concerne a modelação da pessoa, para a qual esses sistemas são centrais. Em se tratando da cultura ocidental contemporânea, há processos comuns que perpassam estes três domínios, dentre os quais se destaca o da individualização. Individualização significa neste contexto um processo social de larga duração ancorado em profundas transformações estruturais que modificaram as formas de reprodução social e de constituição dos sujeitos, colocando em primazia a agência individual, a subjetividade e a construção de si. Na contemporaneidade, os referidos domínios apresentam-se cada vez mais atravessados por constante mobilidade que se origina do fato de que as normas e valores não detêm, como antes, um caráter prescritivo. Elas funcionam agora como grades de leitura, guia de orientações que demandam dos sujeitos atitudes frente às regras sobre as quais lhes é socialmente solicitado escolher e posicionar-se. Trata-se antes de um dispositivo social que atribui crescentemente aos indivíduos o dever da escolha. Assim, compreender os modos de subjetivação dos sujeitos, em suas relações com a família, a busca de autonomia, de constituição (ou não) de novos núcleos familiares são temas centrais na sociologia e antropologia da família.
- Autores: AUTOR: HEILBORN, MARIA LUIZA
- Editora: GARAMOND
- ISBN: 9788576170686
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