Ao longo de todo o livro, Ponzio trava um diálogo com Mikhail Bakhtin ao associar os conceitos de representação e afiguração com a classificação dos gêneros do discurso em primários (da vida quotidiana) e secundários (de elaboração mais complexa, oriundos de relações sociais mais formalizadas). Por essa distinção, os textos pragmáticos de circulação quotidiana são textos primários, de significação unívoca, fechada; já os textos artísticos, dos mais densos entre os textos secundários, permitem uma multiplicidade de sentidos, que transcende o momento histórico de sua produção e a própria relação com as circunstâncias biográficas de seu autor. A partir dessa distinção, Ponzio concentra suas reflexões nas características do texto artístico, com base no princípio de que o complexo permite elucidar melhor o simples; e também, concordando com Kierkegaard, com a noção de que a aparente simplicidade de certas composições artísticas não é espontânea, mas laboriosamente alcançada. Contudo a distinção entre texto comum e texto artístico não implica, de maneira alguma, uma abordagem formalista. Não se trata – como no Formalismo Russo – de apontar uma essência imanente do artístico pelo contraste puramente formal com o não artístico. Seguindo a visão dialógica – em que Bakhtin é uma referência constante – Luciano Ponzio tem sempre em mente a concepção discursiva de enunciado, ainda que utilize muito mais a palavra “texto”. Trata-se de analisar o texto não apenas como uma composição formal, mas como um ato – e uma potencialidade de ato, já que uma composição textual prevê a geração de sentidos diversos em futuras leituras, sendo somente por meio de sua realização como discurso que a composição textual ganha sentido.
- Autores: AUTOR: PONZIO, LUCIANO
- Editora: PEDRO & JOÃO EDITORES
- ISBN: 9788579933929
- Páginas: 274